A voz na sua cabeça - Resenha crítica - Ethan Kross
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A voz na sua cabeça - resenha crítica

A voz na sua cabeça Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Psicologia

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Chatter: the voice in our head, why it matters, and how to harness it

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-65-5564-184-4

Editora: Sextante

Resenha crítica

Por que falamos com nós mesmos 

Durante o dia, é comum ver milhões de pessoas andando para lá e para cá nas calçadas das grandes cidades. Suas expressões lembram máscaras, sem revelar nada,  com muita coisa oculta. Mesmo no transporte coletivo, podemos nos deparar com gente lendo, passando os olhos pelo celular ou encarando a vida pela janela. Parecem completamente desconectadas do que acontece dentro de suas cabeças. 

Na realidade, seus cérebros estão fervilhando de pensamentos. Experiências de vida e planos futuros não param de aconteceri, mesmo que o falatório do cotidiano não permita que parem e reflitam sobre tantos estímulos. Se pudéssemos espiar por alguns minutos o que há por trás de suas expressões, seria possível aprender demais sobre o comportamento humano. 

A mente possui uma capacidade de viajar no tempo, recorrendo à memória não só para lembrar de grandes momentos e pessoas, mas também para tentar tirar dali soluções para questões presentes. Também pode nos levar para o futuro, projetando planos e imaginando caminhos. 

Falamos com nós mesmos porque temos uma consciência que nos diferencia dos outros animais. Da mesma forma que expomos às pessoas de confiança como anda nossa vida, esse papo interno, de você consigo mesmo, é o que lhe faz ser humano. Ouvir sua própria voz interna é um bom sinal. 

Quando falar com nós mesmos é ruim

Atletas de alto rendimento costumam relatar a perda de concentração como um dos adversários a serem batidos quando disputam grandes competições. Em alguns casos, chegam a relatar que um falatório dentro da própria cabeça os impede de ouvir a própria voz, com as instruções a serem seguidas depois de meses de treinamento.

E isso também pode acontecer conosco. A maneira com que conversamos internamente influencia nossa atenção. O tempo todo, somos bombardeados com informações, de imagens a sons, passando por pensamentos e sentimentos despertados por estímulos externos. 

Se isso roubar nossa atenção, ficará impossível filtrar o que é importante. Vale lembrar que boa parte de nosso foco é involuntário, porque essa é uma habilidade que precisa ser trabalhada constantemente. No momento em que todas as vozes ao redor se sobrepõem à nossa própria, é hora de deixar de se ouvir. 

Isso mesmo. Se você não se emudecer internamente, não saberá o que vale a pena ser escutado e poderá dar atenção às ansiedades e à falta de calmaria que insiste em tirar sua paz. Quando falar consigo próprio deixa de ser um diálogo saudável, transformando-se em uma gritaria, é hora de diminuir o volume. 

Como fazer isso? Vamos entender melhor...

Diminuindo o zoom

Imagine sua mente como se fosse a lente de uma câmera. Nossa voz interna pode ser comparada ao botão de aproximação da imagem.

Todo o falatório que acontece dentro de nós nada mais é do que o ato de focar em algo. Isso inflama nossas emoções e exclui outras maneiras de pensar, trazendo à tona assuntos capazes de nos levar à calmaria. Nessa hora, perdemos a perspectiva. 

Reduzir drasticamente sua visão permite que se dê voz ao lado negativo da voz interna. Assim, surge mais estresse, ansiedade, depressão e outros transtornos. 

É importante ressaltar que focar a atenção em um item não é um problema por si só. Pode ser até mesmo necessário para enfrentar situações desafiadoras e sentimentos conflitantes. Mas a capacidade de sermos flexíveis, reduzindo a aproximação e ganhando novas perspectivas de visão transforma nossa voz interna para um diálogo mais produtivo. 

Repare no quanto as emoções negativas atraem ainda mais problemas. Isso se dá porque o cérebro passa a pensar em você mesmo, gerando respostas emocionais semelhantes àquelas recentemente alimentadas. É um problema atrás do outro, uma areia movediça quase impossível de escapar. 

Diminuir o foco da imagem é abaixar o volume da gritaria interior. Faça o teste, veja como o diálogo interno ganha eficiência e paz de espírito. 

O poder e o perigo que vêm dos outros

Já passamos da metade deste microbook e chegamos a um assunto indigesto. Conversar com outras pessoas sobre experiências negativas pode até ser reconfortante temporariamente, mas não traz melhorias significativas ao longo do tempo. 

É muito comum sentirmos necessidade de desabafar com pessoas próximas, que dão apoio quando tudo parece estar perdido. Mas a maneira com que isso é feito, na maioria dos casos, traz poucas contribuições para reduzir o falatório interior. 

Há mais de 2 mil anos a cultura ocidental prega a necessidade de compartilhar oralmente com o outro tudo aquilo que nos aflige. Desde Aristóteles, que sugeriu a exposição de emoções por meio da catarse, após presenciarmos eventos trágicos. 

Mas os estudos mais recentes da psicologia indicam que, ao verbalizar aflições, se não tivermos nossas necessidades atendidas e não nos sentirmos ameaçados, o nível de excitação fisiológica volta ao normal. Com isso, entramos em um processo interno que pede apego a quem nos ouve, para que ele possa entender cada uma de nossas palavras. 

Assim, nosso falatório interno não vai se calar se tão somente “vomitarmos” nossas angústias. Quando a gritaria dentro de você tiver encontro com alguém que pratica a escuta ativa, você vai se sentir ajudado. Caso contrário, em pouco tempo o barulho interior só vai aumentar. 

De fora para dentro

Se você presta atenção em algo de forma involuntária, é sinal de que alguma característica intrigante lhe atrai com maior facilidade. Imagine o som de um músico talentoso em uma esquina fazendo você parar para ouvi-lo por alguns minutos. De repente, até colocar algum dinheiro em seu chapéu antes de seguir a vida. 

Trata-se da chamada fascinação suave, que opera de forma muito diferente de nossa vontade. Quando algo captura nossos sentidos de imediato, o mais normal é fixarmos as atenções naquilo quase que automaticamente. Em compensação,  interesses voluntários exigem recargas contínuas para não serem deixadas de lado. 

No mundo atual, são incontáveis estímulos que prendem a atenção sem que percebamos. Aplicativos, redes sociais, links, sons de novas conversas, chamados. Nisso, deixamos de conversar internamente com o carinho necessário para entender o que precisamos ouvir com mais tempo, sem distrações. 

Esse diálogo interno precisa ser alimentado diariamente para não deixar seu interior falando sozinho. Há quanto tempo você não para e ouve atentamente a própria voz dentro da mente? Se não souber responder, sinal de que o excesso de distrações tenha lhe tirado do centro de suas prioridades.

Parar e ouvir a voz interna exige pouco de nós. Mas caso esse cuidado seja esquecido, a gritaria aumenta a ponto de ficar ensurdecedora. Não se deixe enganar pela sedução das distrações comuns do cotidiano. 

A magia da mente

Quase todo mundo é capaz de explicar o que é um placebo. Trata-se de uma substância usada em pesquisas farmacêuticas para avaliar a eficácia de uma droga real. Em muitos casos, usa-se uma pílula de açúcar no lugar de um remédio. O que pouca gente sabe é que muitas outras coisas também podem ser usadas como placebo. 

Pessoas, ambientes e até amuletos da sorte podem ter o potencial de cura real, como ferramentas práticas para a melhoria verdadeira da saúde, tanto física quanto mental. Isso demonstra o poder imensurável de nossos cérebros. 

Afinal, um órgão capaz de estabelecer comunicação entre seres da mesma espécie, e também internamente, dentro de cada um de nós, não pode ser menosprezado. Sua mente tem mais respostas do que você é capaz de imaginar. 

É possível que a voz em sua cabeça tenha muito mais a falar do que você pense. Quando estiver em silêncio, não se sinta angustiado com um barulho atormentando você, seja com fatos do passado ou com projeções para o futuro. 

Pare e converse consigo mesmo. Controle o volume, evite gritarias e perceba como a maioria das respostas que você procura já são conhecidas. Saber falar e saber ouvir são tarefas importantes demais, mesmo quando nem é preciso verbalizar em voz alta o que já está aí dentro. 

Notas finais 

Se você é daqueles que acha estranho conhecer pessoas que falam sozinhas, é bom rever os próprios conceitos. Existe uma voz dentro de sua cabeça que viaja do passado para o futuro constantemente, permitindo uma conversa interna com um poder de transformação de seu destino muito mais do que o imaginado. Pode parecer loucura, mas estranho mesmo é não ouvi-la e deixar que o barulho dentro de si aumente até que se perca o controle, gerando estresse, ansiedade e outros transtornos que atormentam tanta gente no mundo atual. Ter um momento para si é fundamental para manter não só a sanidade, mas para obter o autoconhecimento a que todo ser humano tem direito. É melhor abrir os ouvidos e escutar com atenção. 

Dica do 12 min

Já ficou em dúvidas sobre os motivos de tomarmos decisões tão distintas? Entenda nosso comportamento no microbook Ruído, que você também encontra aqui no 12 min. 

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Quem escreveu o livro?

Neurocientista e psicólogo, é reconhecido como um dos maiores especialistas no controle da mente consciente. Além de escritor, é u... (Leia mais)

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